Cadê a comida que estava aqui?
Cinco da manhã e já estava de pé. A ida ao Centro prometia uma sequência irresistível de típicas comidas de rua. Por prevenção, limitei meu desjejum a um copo de suco detox (última tendência no mundo das dietas). Era preciso manter a fome para degustar as iguarias enriquecidas com o inconfundível tempero da cidade.
No trajeto, o pensamento fixo no aroma de churrasquinho que me aguardava nas esquinas. A fumaça, a gordura, a brasa. O cheiro característico de qualquer centro que se preze. Muitos quarteirões depois, porém, e do churrasquinho eu não vi nem o gato nem o espeto.
Atravessei a avenida Afonso Pena e me deparei com a banca de bolos do Steve Barbosa. Aliás, de bolo, cachaça, cigarro, guarda-chuvas, pilhas e bolsas – diversificar o negócio é o segredo do sucesso. Achei suficiente para começar. O simpático vendedor com cabelos acaju está lá há 30 anos e saúda a todos pelo vocativo de “amiguinho”.
Fiquei à vontade e perguntei: cadê os churrasquinhos? A resposta não foi animadora. Com a proliferação de fiscais da prefeitura e a diminuição do número de ônibus em circulação por ali (maldito MOVE), as coisas não vão bem. Nem bolo faz mais tanto sucesso. Ele, que já vendeu 300 pedaços por dia, agora fica feliz quando saem 50.
Mas eu continuava com o pensamento no churrasquinho envolto em farinha. Na falta dele podia ser também um milho cozido, um pão com pernil ou um cachorro-quente. Só me recusava a entrar nas lanchonetes com cardápio padronizado: coxinhas, pães de queijo e pastéis. Detesto clichês.